Deram-me um fato novo de presente
Que eu agora despi, nada ralado,
Ganhei, com ele, um ar desajeitado,
Voltei a ser eu próprio novamente.
Um fato desse corte era prudente
Mantê-lo das cobiças afastado,
Mas eu sempre o tomei por emprestado,
Não me amoldei à roupa francamente.
Nunca me deu cuidados nem cegueira
A posse duradoura ou passageira
De tudo quanto em sorte me sorriu…
Como tudo na vida é breve e passa
Também ao fato novo deu a traça…
Mas não encontram nu quem o despiu.
Soneto de António Luís Roldão, ilustre barquinhense